Ou seja, quando se contrata uma empresa de projeto, com dezenas de Engenheiros e Arquitetos nos seus quadros, com um sistema de gestão da qualidade, com trinta anos de experiência, com milhares de projetos no portfolio, será que é o mesmo que contratar uma empresa com 1 pessoa (não precisa ser engenheiro) que reúne uma equipa para a gestão de um contrato? Será que o valor é o mesmo? Como se pode entender que uma empresa com o capital social de 1€ (sim é possível ter uma empresa de capital social de 1€), sem pessoas no quadro, sem "track record", concorra em igualdade de circunstâncias, a todos os projetos, com outras que supostamente tem outra estrutura de custos e a correspondente capacidade?
O Sr. Bastonário da Ordem dos Engenheiros, Eng.º Carlos Mineiro Aires, disse recentemente:
"a nossa engenharia na área da construção tem uma qualidade que é reconhecida em todo o mundo, mas também as nossas empresas do setor foram destruídas durante e depois da crise. Recordo que desapareceram cerca de 65 mil empresas e das 25 grandes que tínhamos restam-nos três, para além de terem abandonado a profissão ou saído do país mais de 300 mil operários e uma grande maioria de especializados."
Destruímos cerca de 65 mil empresas e empurrámos 300 mil pessoas para outros países (que agradecem), muitas eram pessoas competentes e empresas sólidas, que prestavam serviços de projeto em Portugal e além-fronteiras.
Enquanto não entendermos que não se constrói um País ao preço mínimo, não podemos reclamar os honorários miseráveis que hoje se pagam aos engenheiros, arquitetos e restantes cidadãos qualificados, que os melhores talentos emigrem, que as empresas fechem, que tenhamos tanta dificuldade em contratar pessoas e que cada vez mais existam empresas de 1 pessoa. Ter lucro para investir nas pessoas e no país não é um crime.
Claro que existe espaço para o consultor isolado e para as empresas pequenas. Se estas não existirem a concorrência também não funciona. A questão é que estamos a destruir as empresas de 30 pessoas e a criar 20 empresas de 1 pessoa (os outros 10 emigraram). Será este cenário benéfico para o país?
Penso que existem critérios objetivos que podem ser usados para termos uma concorrência salutar. Pessoas no quadro da impresa, certificações, track record ("track record of a person, company, or product, you are referring to their past performance, achievements, or failures in it"). Se tentarmos trabalhar num país da europa pedem-nos "track record". Em Portugal pedem-nos preço.
Depois de destruir muitas empresas de construção que eram capazes, assistimos a um aumento enorme do preço de construção e uma incapacidade de responder às necessidades do país e às obras necessárias à concretização do quadro de aplicação dos fundos da União Europeia, 2020.
O mesmo se irá passar no sector dos serviços.
Um país sem pessoas qualificadas é uns pais atrasado. Nesse aspeto recuámos alguns anos. Não é necessário criar subsídios para que as pessoas regressem ao seu país, basta criar condições para que as possamos reter.