Os inquéritos mensais do INE à atividade indicam que as opiniões dos empresários da Construção atingiram, em setembro de 2019, máximos de 17 anos. Tanto o Indicador de confiança, como as perspetivas de evolução do emprego e dos preços a praticar no futuro próximo, cresceram para níveis elevados.
Isto parecem ser boas notícias para o setor, mas poderão ser más notícias para o País. Não existe capacidade para executar um volume de obras correspondente à procura e os preços têm subido de forma alarmante. A FEPICOP refere que os valores de produção na construção estão "longe do valor de produção atingido antes da crise que se abateu sobre o setor após o ano de 2002. De facto, nesse ano, a produção da construção atingiu os 20,2 mil milhões de euros, pelo que a produção prevista para 2019 não ultrapassará os 62% do valor atingido 17 anos antes"
Existe confiança no mercado por parte dos industriais mas o setor da construção, muito desmembrado devido à crise recente, não tem capacidade para produzir aos níveis que provavelmente seriam necessários. O país corre sérios riscos de não ser capaz de construir as obras de que precisa para realizar os investimentos previstos no programa Portugal 2020. Outra situação que se poderá tornar insustentável é o aumento de preços. Os projetos do quadro Portugal 2020 são financiados em parte pelo programa e em parte pela entidade apoiada. Supondo um investimento de 1 milhão de euros aprovados com um financiamento de 80%, caberia à entidade apoiada encontrar 200 mil euros. Supondo um aumento do preço da construção na ordem dos 50%, teremos agora uma obra de 1,5 milhões de euros cabendo à entidade apoiada 700 mil euros. Neste ambiente, muitos dos promotores apoiados poderão desistir do investimento que altera consideravelmente o plano financeiro inicial. Talvez pareça um exagero falar de 50% no aumento do custo da construção, mas no nosso entender, esse aumento já foi verificado em algumas obras de prazo curto ou, em casos muito específicos, em termos de "know how".
Com um volume crescente de obras para conclusão no Quadro Comunitário Portugal 2020 e com uma forte aceleração do mercado imobiliário de construção de habitação nova e reabilitação, as empresas têm as carteiras de encomendas cheias e só aceitam acrescentar obras a essas carteiras se forem de prazos longos e margens adequadas.
São as regras do mercado a funcionar. Com a crise, as empresas fecharam a atividade e agora, com maior número de obras, o preço sobe. O único problema é que é muito mais rápido destruir do que construir e a capacidade e conhecimento que existia em muitas empresas desapareceu para sempre. Levará provavelmente mais de uma década para refazer as empresas que o mercado necessita.
Neste contexto, tem de ser gerada uma nova mentalidade que nos permita fazer mais com menos:
- Maior investimento nos projetos e recurso a novas ferramentas de BIM e preparação da obra;
- Melhor planeamento e utilização de recursos em obra;
- Maior automatização com recurso a tecnologias diversas;
- Maior recurso à prefabricação tradicional e aumento de componentes realizados em fábrica.
Nada será igual no setor da construção e teremos de aprender a mudar. Porque não seguir o exemplo dos nossos vizinhos europeus, que investem 3 anos a fazer o projeto e apenas 1 ano a construir esse projeto? Talvez seja importante recordar o que disse Leon C. Megginson:
"Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças."
Na Central Projectos estamos atentos à mudança e implementamos nos nossos projetos processos de automatização da construção, racionalização do fabrico dos diversos componentes e ainda estratégias de minimização de mão-de-obra no estaleiro.
J. Catarino